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Você deve lutar pela mediocridade

São tempos verdadeiramente difíceis. Na verdade, acho que sempre foram. O ser humano, no geral, criou a tendência de se concentrar apenas nas exceções, e não na regra.

Nós aprendemos a glorificar o excepcional, o vencedor, o mais forte, o mais bonito e o mais rico. Somos apaixonados pelos êxitos que um indivíduo é capaz de alcançar. Gates, Jobs, Buffet. Referências.

Fomos quase que doutrinados e aconselhados a inovar e ousar sempre que uma oportunidade bater à nossa porta – se é que ela vai bater. Melhor ainda, não devemos esperar esta oportunidade, devemos ir atrás. Correr atrás. Rastejar. Nos curvar.

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Nova Era

Uma nova era nasceu e eu confesso que não estava preparada pra ter que brigar com cães tão ferozes. Minha rede social não parece mais tão interessante e eu me questiono se minha vida realmente tem alguma finalidade. Será que existe algo que me torne especial, pois eu vejo que todos ao meu redor são presenteados com uma vida incrivelmente maravilhosa, com suas viagens ao exterior e seus cartões de crédito ilimitados.

Virou uma intensa e interminável disputa de quem tem a vida mais feliz e perfeita, com seus smartphones que quitariam meu celta 2001 (que – por sinal – eu nem tenho) e seus corpos bronzeados e em forma, enquanto eu tomo uma coca cola e crio coragem pra levantar da cama e fazer uma flexão. Como eles conseguem? Como eles chegaram lá? Eu quero chegar também.

E foi assim que adoeci no obscuro mundo do falso perfeccionismo. Acreditando que a vida de todo mundo era mais interessante e mais extraordinária que a minha. O jardim dos outros sempre floresciam mais que o meu e eu não entendia o que havia de errado com meu regador; ou com meu adubo. Talvez o problema fosse as sementes – mas eu tinha absoluta certeza de que elas iriam florescer um dia.

Não há nada de errado em ser normal

São tempos difíceis, pois nossas redes sociais estão lotadas de mentiras que nos fazem acreditar que não somos especiais e, talvez, não sejamos mesmo. Temos que aprender a aceitar isso ou viveremos à mercê de um mundo cruel que corrói e corrompe. Não há nada de errado em ser medíocre e ter uma vida comum.

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Todos os dias esfregam na nossa cara que somos pequenos e que isso é um defeito. Então agora eu vou te dizer uma verdade: estão mentindo pra você. Há algo errado com a mitologia do sucesso. Muito errado! Eles igualam excelência à realização e mediocridade com falta de realização. Mas, a vida não funciona assim.

Meu pai é uma pessoa mediana, mas que é inúmeras vezes mais realizado do que eu. Por que? Simplesmente pela simplicidade. Ele não deseja ou almeja nada que seja praticamente impossível de se alcançar e ele está satisfeito com essa decisão. Não há mal nisso, mas também não há recompensa e pra ele: tudo bem.

Os seres humanos de hoje criaram uma armadilha interna. Eles não entenderam que não podem ter tudo, mas não desistem de ter. E eles acreditam que os medianos nunca terão tudo, quando nem sequer percebem que estes não fazem questão de ter, portanto… estão sempre um passo à frente em direção da felicidade.

A mediocridade é subestimada.

Nós subestimamos a mediocridade, pois acreditamos que gente mais ou menos não são capazes de se tornarem o próximo Neymar ou a próxima digital influencer famosa e patrocinada para usar um produto que não funciona e dizer que ele mudou a vida dela. A vida de gente medíocre não é interessante pra se assistir e, por isso, proibimos nossos filhos de ver filmes e ler livros sobre coisa nenhuma, pois eles precisam virar gênios em matemática ou escrever a melhor redação do Enem e passar numa faculdade fantástica.

Estamos ocupados demais ensinando nossos filhos que perder é fracassar e que ser média é sinônimo de infelicidade. Eles precisam ser excepcionais, excelentes. Mesmo que isso custe toda a sua sanidade mental. Vamos fazer nossos filhos lerem livros estupendos hoje e amanhã eles serão obrigados a conhecer páginas e páginas de autoajuda, porque nós esquecemos de ensinar o significado de frustração.

É cruel demais, mas precisamos reconhecer que somos a geração mais fragilizada emocionalmente e, provavelmente, nossos filhos irão sofrer muito mais que nós, porque nós nunca os incentivamos a ser medianos. Sempre cobramos perfeição demais. Acumulamos e depositamos nossas próprias expectativas e medos em outra pessoa e queremos que essa pessoa supra àquilo em que falhamos. Queremos que nossos filhos consertem os nossos erros, as nossas falhas.

Tudo que eu quero pros meus filhos é que eles assistam programas de televisão que não agregam nenhum valor, que eles ouçam músicas que não tenham sentido, que eles fracassem quantas vezes for necessário, que eles desistam da faculdade que eu sonhei pra eles, que eles virem as costas pro que eles não querem. Que eles amem mal, que eles sintam arrependimentos, que eles cresçam, evoluam, mas por suas próprias decisões, cientes de que mesmo que eles forem medíocres, eles foram gigantes.

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A gente subestima a mediocridade com cobiça.

Realização é importante, mas precisamos estar cientes de que não somos obrigados a realizar grandes feitos para termos valor. Nosso tempo é curto demais para viver de grandes conquistas.

Exija de si mesmo, apenas aquilo que você espera de si. Se ame e se respeite.

Seu lugar é onde você quiser, se quiser e como quiser. Não pira!

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